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Vozes Femininas: 3 mulheres que marcaram a história de Minas Gerais

Sueli Maria Rutkowski

Atualizado: há 1 hora

 

No dia 8 de março celebramos do Dia Internacional das Mulheres. Para comemorar essa data, vamos conhecer hoje um pouco mais sobre a vida de três incríveis mulheres mineiras que desempenharam papéis fundamentais na história do Brasil, especialmente durante os séculos XVIII e XIX. São elas: Beatriz Brandão, Chica da Silva e Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, cujas trajetórias refletem a diversidade e a riqueza cultural de Minas Gerais.


Antes de mais nada, é preciso saber que a vida dessas mulheres foi marcada pela coragem e ousadia. Numa época em que a sociedade as limitava a papéis secundários, elas desafiaram as expectativas e deixaram sua marca na história de Minas Gerais e do Brasil. Cada uma dessas mulheres contribuiu de forma única para a construção da identidade mineira.


Seja na luta pela independência, na resistência cultural ou na conquista de espaços antes negados às mulheres, suas trajetórias inspiram gerações e merecem ser lembradas. Conheça algumas dessas figuras notáveis que ajudaram a moldar o passado e o presente de Minas Gerais:


Neste post:




Rua do Pilar, em Ouro Preto, onde nasceu a poetisa Beatriz Brandão. Foto: Isabella Atayde. IPHAN.
Rua do Pilar, em Ouro Preto, onde nasceu a poetisa Beatriz Brandão. Foto: Isabella Atayde. IPHAN.


Beatriz Brandão (1779-1868)


Você provavelmente conhece a célebre Maria Doroteia Joaquina de Seixas, a Marília de Dirceu, certo? Mas você sabia que em sua família existiu outra mulher notável, que se consagrou como poetisa e educadora?


Nascida em 1779 em Vila Rica, atual Ouro Preto, Beatriz Francisca de Assis Brandão foi uma mulher muito à frente de seu tempo. Poetisa, educadora, musicista e tradutora, ela se destacou por sua atuação intelectual em uma época em que o acesso das mulheres à educação era limitado.


Assinando seus textos como "D. Beatriz", colaborou com a revista "Marmota Fluminense" entre 1852 e 1857, período em que publicou diversos poemas, crônicas e traduções. Seus versos foram incluídos na coletânea "Parnaso Brasileiro" em 1856, dedicada aos melhores poetas da época. Vale lembrar que no Brasil do século XIX, a maior parte da literatura era produzida apenas por homens.


Além de sua prolífera produção literária, Beatriz dedicou-se à educação de jovens moças, tanto em Ouro Preto quanto no Rio de Janeiro, influenciando significativamente a formação cultural brasileira no século XIX. Sua contribuição foi reconhecida postumamente, sendo nomeada patrona da cadeira 38 da Academia Mineira de Letras.


Hoje Beatriz Brandão é vista como uma das mulheres de maior destaque no cenário literário brasileiro e diversos livros e estudos buscam revelar sua vida e obra para o público.



Casa de Izabel Feliciana Narcisa de Seixas e de Francisco Sanches Brandão, na atual rua do Pilar, 76, em Ouro Preto. Nesta casa nasceu Beatriz Brandão. Foto: Site Parentesco.com.br
Casa de Izabel Feliciana Narcisa de Seixas e de Francisco Sanches Brandão, na atual rua do Pilar, 76, em Ouro Preto. Nesta casa nasceu Beatriz Brandão. Foto: Site Parentesco.com.br

Uma curiosidade: Beatriz Francisca de Assis Brandão foi uma das primeiras professoras concursadas de Minas Gerais e fundou uma das primeiras escolas femininas de Vila Rica. Beatriz também foi possivelmente a única escritora que nos deixou um relato humanizado sobre sua prima, a eterna Marília de Dirceu.




Filme "Xica da Silva", (1976). Direção: Cacá Diegues. Foto: Acervo Globo.
Filme "Xica da Silva", (1976). Direção: Cacá Diegues. Foto: Acervo Globo.

 

Chica da Silva (c. 1732-1796)


Não há personagem mineira mais autêntica e ousada do que Chica da Silva. Ela já foi tema de inúmeros livros e estudos, virou filme, novela, enredo de escola de samba e hoje faz parte do imaginário mineiro. Mas o que pouca gente sabe é que sua história nos apresenta um retrato vívido da sociedade colonial de sua época.


Francisca da Silva de Oliveira nasceu por volta de 1732, possivelmente na cidade do Serro, Minas Gerais. Filha de uma escravizada africana e de um português, Chica foi alforriada e tornou-se uma figura emblemática do período colonial brasileiro e da cidade mineira de Diamantina. Após conquistar sua liberdade, estabeleceu uma união com o contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, com quem teve vários filhos.



Casa onde residiu Chica da Silva em Diamantina. Foto: IPHAN.
Casa onde residiu Chica da Silva em Diamantina. Foto: IPHAN.

Durante sua vida, Chica alcançou uma posição de destaque inédita na sociedade diamantina, adquirindo propriedades e participando ativamente da vida social e cultural da região. Sua trajetória desafiou as rígidas estruturas sociais e raciais da época, simbolizando a possibilidade de ascensão social de pessoas afrodescendentes no Brasil colonial.


Embora sua história tenha sido romantizada e, por vezes, distorcida ao longo dos anos, estudos acadêmicos recentes buscam resgatar sua verdadeira importância histórica e cultural.

 

Ao visitar Diamantina, é possível conhecer a casa onde Chica da Silva viveu com o contratador João Fernandes de Oliveira. O casarão é um dos mais bem preservados do período colonial mineiro e conta com uma capela dedicada à Santa Quitéria, erguida para uso privativo de Chica da Silva. O local hoje abriga a sede do Iphan, Instituto do Patrimônio histórico e Artístico Nacional, em Diamantina.


Uma curiosidade: Após sua morte em 1796, Chica da Silva foi enterrada na Igreja de São Francisco de Assis, em Diamantina, um local tradicionalmente reservado para a elite branca da sociedade. Esse fato simboliza a significativa ascensão social que Chica alcançou durante sua vida, desafiando as rígidas barreiras raciais e sociais da época.



Panteão dos Inconfidentes, em Ouro Preto.
Panteão dos Inconfidentes. Foto: Museu da Inconfidência.

 

Hipólita Jacinta Teixeira de Mello (1748-1828)


Eis um fato histórico muito pouco conhecido: uma mulher participou diretamente da Inconfidência Mineira e hoje ela é considerada uma das heroínas magnas da história do Brasil.


A importância histórica de Hipólita Jacinta é algo que devemos celebrar. Nascida em Prados, Minas Gerais, Hipólita Jacinta Teixeira de Mello foi uma influente proprietária rural e uma das poucas mulheres a participar ativamente da Inconfidência Mineira, movimento separatista ocorrido em 1789.


Descrita como uma mulher culta e com apurada visão política, Hipólita residia na Fazenda da Ponta do Morro, numa localização estratégica entre as vilas de São José e o arraial de Prados. Era casada com o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, que acabou preso e degredado por seu envolvimento com a Inconfidência Mineira.


Sabemos que o casal não teve filhos biológicos, mas Hipólita adotou e educou duas crianças. Além disso, foi madrinha de diversas crianças humildes da região e, em seu testamento, deixou significativa quantidade de ouro para os pobres da "Freguesia de Prados".



Monumento a Hipólita Jacinta, em Prados, MG.
Monumento em homenagem a Hipólita Jacinta Teixeira de Mello na cidade de Prados, MG. Foto: Agência Brasil/Divulgação.


Durante a Inconfidência Mineira, Hipólita desempenhou um papel crucial. Utilizou sua influência e recursos para apoiar financeiramente o movimento e atuou como mensageira, distribuindo cartas e comunicados que convocavam para o levante. Além disso, sua fazenda serviu como local de reuniões dos inconfidentes, e ela alertou os conspiradores sobre a delação de Joaquim Silvério dos Reis e a prisão de Tiradentes no Rio de Janeiro.


Com o fracasso do movimento, Hipólita enfrentou severas consequências. Teve seus bens confiscados pela Coroa Portuguesa, e seu marido foi condenado ao degredo perpétuo em Moçambique, onde faleceu dois anos depois. Determinada a recuperar seu patrimônio, Hipólita envolveu-se em um longo processo judicial e, com a ajuda de amigos, conseguiu reaver parte de seus bens em 1808.


Hipólita Jacinta Teixeira de Mello faleceu em 1828. Em 2023, se tornou a primeira mulher a ter uma lápide no Panteão da Inconfidência. Em 2024, um projeto de lei inseriu seu nome no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.


Seu legado como talvez a única mulher a participar ativamente da Inconfidência Mineira destaca sua coragem e determinação em lutar pela liberdade e justiça, desafiando as limitações impostas às mulheres de sua época.


Uma curiosidade: A carta na qual Hipólita Jacinta avisa aos demais inconfidentes sobre a prisão de Tiradentes no Rio de Janeiro é um dos documentos mais significativos sobre a Inconfidência Mineira. É nesta carta que encontramos sua famosa frase: “Mais vale morrer com honra do que viver com desonra”.


Resumo


A história de Minas Gerais e também do Brasil não seria a mesma sem a presença e a força dessas mulheres incríveis. Cada uma delas nos apresenta um contexto histórico distinto, mas todas têm em comum a coragem para quebrar os padrões sociais de sua época.


As trajetórias de Beatriz Brandão, Chica da Silva e Hipólita Jacinta Teixeira de Mello evidenciam a diversidade e a complexidade da experiência feminina em Minas Gerais. Suas vidas e contribuições refletem desafios superados e conquistas alcançadas, deixando um legado duradouro na história cultural, social e política do Brasil.


E se você gosta de história e deseja vivenciar toda essa riqueza cultural, não deixe de conhecer Minas Gerais. Suas cidades históricas, monumentos e museus preservam a memória dessas mulheres notáveis, permitindo que suas trajetórias sejam lembradas e celebradas.


Confira os meus passeios e agende hoje mesmo a sua aventura pela história de Minas Gerais.






 


Referências:


Para uma breve biografia dessas mulheres: Histórias para não esquecer. Organização: Américo Antunes. FHist. 2022. Acesse a versão em PDF aqui.


Beatriz Brandão:

Excluídos da História: Beatriz Brandão. IFMG - Betim.

"Contestado fruto: a poesia esquecida de Beatriz Brandão (1779-1868)". Claudia Gomes Dias Costa Pereira. Banco de Teses UFMG.


Chica da Silva:

"Chica da Silva, a negra que manda". Eduardo Henrique da Silva. Revista Owl.

"Chica da Silva - Um estudo". Júnia Ferreira Furtado. Oxford African American Studies Center.


Hipólita Jacinta Teixeira de Mello:



 

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