Bem, a minha vida de Guia de Turismo em Ouro Preto é encantar e contar histórias para os visitantes do Brasil e do mundo com direito a pagar micos também!
O micão aconteceu em uma manhã chuvosa de verão quando iniciei o meu primeiro dia de trabalho como Guia. O motorista e eu fomos buscar os visitantes da Alemanha que amam vir para Ouro Preto para fazer um city tour. Cumprimentos aqui e ali, seguimos para o carro. Detalhe, perguntei se comeram um pão de queijo feito aqui e felizmente, eles adoraram o pãozinho. Quem vem à Minas tem que provar do pão de queijo feito aqui!
Logo depois, no carro a partida foi dada. Ainda sem uma gota d’água, seguimos para onde tudo começou, para o alto do Morro São João a 1500 m de altitude. Lá está uma a primeira construção religiosa, a capela de São João erguida nos primórdios da antiga Vila Rica em junho de 1698 que marca a fundação da atual cidade mineira Ouro Preto.
Bem, quando lá chegamos, imaginem o que aconteceu? Isso mesmo, caiu aquele pé d’água! Corremos para o carro para nos protegermos.
Rapidinho, preciso contar algo que vocês que ainda não sabem! Eles detestam chuva! Morei na década de 90 e naquela época não chovia muito. Acredito que não seja mais assim com as mudanças climáticas acontecendo.
Ainda no carro, mesmo sabendo que eles são que nem gatos, que não suportam uma chuvinha, comecei a falar tecnicamente das estações do ano no Brasil e que em Minas também chovia muito nessa época e de repente, a esposa deu um tapa no rosto do marido!
O motorista ficou chocado sem entender nada e eu fiquei em silêncio morrendo de dó do marido e arrependimento por ter tocado no assunto das “tempestades veraneias” e fomos embora.
Os dois discutiram por um longo tempo. Afinal, segundo a esposa, o marido sabia que ela odiava as chuvas e ele cometeu o erro de planejar a viagem para o Brasil justamente naquele momento. Ela xingou o marido durante todo o trajeto até o próximo atrativo.
Quando chegamos em uma antiga e desativada mina de ouro onde a abordagem é o sistema escravocrata no Brasil Colônia, pude com muito jeitinho mostrar um pouco do dia a dia árduo do trabalho dos africanos escravizados, pois eles foram trazidos para cá devido seu conhecimento da mineração.
Mostrei que o africano escravizado teve que aceitar aquela nova vida e o quanto ele desejava e sabia que poderia mudar seu destino e mesmo assim, esperou mais de 300 anos para serem livres.
Inesperadamente começou a chover (novamente) e antes que a mulher reclamasse de algo já disse: a chuva é algo que não podemos mudar. Um destino revoltante sim. Acredito que ela pôde refletir que há situações na vida que conseguimos mudar e em outras temos que ter paciência e mais, que existem outras situações muito piores que a nossa.
A partir desse primeiro dia de trabalho me apaixonei mais pela profissão escolhida. Percebi que tenho, diariamente, a oportunidade de possibilitar uma transformação de atitudes e pensamentos nas pessoas através da reflexão sobre os fatos da história do Brasil e seus personagens.
Hoje não pago mais mico no período das águas que vêm e que vão durante meu trabalho com gringos alemães. Já começo mostrando a poética da chuva que inesperadamente cai para nos prover alimentos, uma bela paisagem ou uma bela lição de vida.
E assim, gosto da minha vida de Guia de Turismo.
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